Se você tem o costume de ler portais do ramo, provavelmente já se deparou com a expressão interoperabilidade em saúde, certo? Isso porque o assunto tem sido pauta recorrente nos últimos tempos, chamando a atenção de gestores hospitalares, suas instituições e até mesmo os pacientes. Mas, afinal, o que esse fenômeno tem de tão curioso e quais mudanças ele é capaz de gerar no setor no Brasil?
Para te ajudar a compreender o tema, nós preparamos um artigo completo sobre ele. Aqui, você entenderá melhor o conceito, sua aplicação prática e quais as vantagens envolvidas na interação entre dados de diferentes sistemas, e o melhor: totalmente voltado para o setor da saúde. Confira!
Afinal, o que é interoperabilidade?
Antes de entrarmos no que seria a interoperabilidade na área da saúde, vamos esclarecer o que essa palavra um pouco complicada significa. De forma geral, basicamente, o conceito gira em torno do trabalho simultâneo entre diferentes sistemas operacionais (ou plataformas), que conseguem se comunicar mesmo com suas distinções.
Vale destacar que essa é uma capacidade de grande importância para todos os setores, que, contendo softwares variados, podem interagir de maneira eficaz e segura. Sobretudo em um contexto de constante informatização das empresas, a intercomunicação entre sistemas não é apenas um diferencial, mas uma necessidade de sobrevivência em qualquer área do mercado.
Interoperabilidade aplicada à saúde
Não é novidade para ninguém que o setor de saúde é super complexo: além de seus diversos públicos, convivem diariamente ferramentas como o prontuário eletrônico do paciente, o sistema de gestão da instituição e o sistema de comunicação e arquivamento de informações.
Muitas vezes, o que acaba acontecendo é que, por falta do compartilhamento de dados entre estes, profissionais costumam ter um conhecimento incompleto dos dados clínicos de seus pacientes… Isso quando a falta de informações não gera uma série de conflitos médicos.
É pensando nisso que, dentro da expansão tecnológica, muitos gestores de saúde avaliam a interoperabilidade como um processo fundamental para o setor. A partir de protocolos que padronizam a representação dos dados, laudos, exames, doenças e imagens são facilmente assimilados por sistemas distintos e repassados de um para o outro.
Vamos propor um exemplo:
Suponha que um indivíduo sofra um acidente de trânsito e necessite de encaminhamento urgente para um hospital. Na correria do momento, percebe-se que o sistema da instituição não é capaz de – justo por não ser integrado aos demais – buscar o histórico de exames já realizados pelo sujeito de forma rápida. E é aí que, ao repetir exames provavelmente já feitos pelo paciente, o hospital não só tem mais custos, mas perde um tempo que pode ser decisivo dependendo da situação.
Em outras palavras, a situação acima destaca como a falta de interoperabilidade dos sistemas institucionais pesa diretamente na eficiência do atendimento.
Portanto, permitir que os dados de cada indivíduo sejam compartilhados pode significar não só agilidade na hora de atender alguém, mas a redução de custos em um momento de crise. Informações na palma da mão e dispositivos que conversam entre si são a chave para um futuro com menos erros e mais cuidado com o paciente.
Além disso, a interoperabilidade em saúde traz uma maior engajamento do paciente e de seus familiares em seu tratamento, já que essa tecnologia possibilita o acesso às informações médicas registradas nos diversos sistemas de informação.
Isso deixa o paciente e sua família mais tranquilos e confiantes, afinal, estão “por dentro” do que de fato está acontecendo e de como está seu quadro. Estes não receberão apenas as informações que o médico julgaria necessário passar.
Estas informações podem incluir consultas e procedimentos realizados, sintomas, efeitos colaterais, medicação tomada, pressão arterial, etc.
Além disso, a tecnologia permite facilitar a relação de pacientes com os profissionais de saúde, como médicos e enfermeiros, para esclarecer eventuais dúvidas, receber orientações e até mesmo solicitar agendamentos. Ou seja, bom para todo mundo.
Por que optar pela interoperabilidade?
Está ficando cada vez mais claro que a interoperabilidade na área da saúde vem sendo atestada como fundamental para o sucesso de um tratamento e até mesmo para salvar vidas.
Isso acontece por ela tornar possível a padronização de dados sobre a saúde dos pacientes que são cadastradas nos prontuários eletrônicos e no sistema da instituição, o que, por sua vez, permite o compartilhamento das mesmas entre os médicos e enfermeiros.
Também é possível fazer a análise das informações do histórico médico completo dos pacientes, evitando, assim, casos como a duplicação de exames. Como consequência, também reduz os custos ao evitar a repetição de procedimentos já feitos.
Sabendo quais são principais vantagens da interoperabilidade em saúde, podemos citar alguns exemplos que costumam ser muito bem sucedidos neste aspecto: a TISS (Troca de Informação de Saúde Suplementar), um padrão que gera a troca de informações entre prestadores e operadoras de saúde, e o HL7 (Health Level Seven), que produz protocolos para troca, gerenciamento e integração de informações relevantes aos cuidados com pacientes.
TISS (Troca de Informação de Saúde Suplementar)
A Troca de Informações na Saúde Suplementar (TISS) foi definida como um padrão obrigatório para as trocas de dados sobre a saúde dos beneficiários de planos entre os agentes da Saúde Suplementar.
Os objetivos deste sistema são:
- Uniformizar as ações administrativas;
- Financiar as ações de avaliação e acompanhamento econômico, financeiro e assistencial das operadoras de planos privados de assistência à saúde;
- Compor o Registro Eletrônico de Saúde.
O padrão TISS tem por critério a interoperabilidade entre os sistemas de informação em saúde recomendados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar e pelo Ministério da Saúde. Outro de seus critérios também é a redução do desequilíbrio de informações para os segurados de planos privados de assistência à saúde.
HL7 (Health Level Seven)
Fruto de uma organização sem fins lucrativos, a HL7 é um conjunto de normas que produz um protocolo de transmissão de mensagens de equipamentos médicos, sistemas administrativos e bases de dados médicos.
Estas normas se centralizam na camada de aplicação, a chamada “camada 7” no modelo OSI de estrutura de comunicação entre computadores.
Desafios para a sua implantação no Brasil
Apesar da clara importância da interoperabilidade no setor de saúde, ainda não foi possível alcançar o nível desejado de integração entre sistemas. E então, quais razões explicam isso? Aparentemente, existem diversos fatores que atuam contra seu desenvolvimento no ramo.
Em primeiro lugar, há o problema de como representar a informação para sua manipulação computacional. Na teoria, a interoperabilidade causa a padronização de vocabulários (realizado através de sistemas como CID-10, por exemplo). No entanto, o desenvolvimento destes padrões pode ser lento e sua adoção ainda mais.
Isso porque o âmbito da saúde é muito complexo e a representação informática dos seus conceitos acaba também sendo complicada, o que dificulta a adesão de padrões na área.
É necessário o treinamento adequado dos profissionais envolvidos no desenvolvimento de sistemas e TI e também daqueles que os utilizam (médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, entre outros profissionais de saúde).
Mais um fator que pode dificultar a adoção de sistemas de interoperabilidade é a grande quantidade de padrões existentes. Por este motivo, se torna difícil saber qual deles deve ser adotado para agregar mais benefícios à instituição.
Outro desafio e condição importante para a adoção da interoperabilidade nas instituições de saúde é garantir a segurança e confidencialidade dos dados do paciente. Ao serem expostos os dados do paciente para a troca de informações entre os médicos, sua segurança se torna mais vulnerável. Em caso de violação, a instituição pode sofrer uma série de processos jurídicos.
Sabemos que as questões tecnológicas representam apenas parte da solução das questões de uma instituição. Por isso, torna-se necessário o esforço conjunto de profissionais de saúde, provedores, instituições, usuários e gestores. Só assim será possível estabelecer um padrão que alcance a interoperabilidade de dados de saúde.
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