Os problemas do sistema de saúde brasileiro são recorrentes. Há muitos anos, as justificativas para uma saúde muito inferior à que deveria ser proporcionada à população já são comuns. Isso faz com que toda a população e profissionais de saúde exijam mais recursos.
Nos últimos tempos, temos acompanhado a dificuldade financeira de inúmeras instituições da área de saúde, como hospitais e operadoras de saúde tradicionais e conhecidas no mercado.
Os motivos são os mais variados possíveis: aumento dos custos de mão-obra, insumos e tecnologias, dificuldade de repasse e de correção da tabela de preços para aumento da receita, retrabalho e erros de estoque.
Existe uma pressão, tanto interna quanto externa, por mais eficiência e resultado de parte das instituições. Mas quais são as opções para os gestores da área da saúde?
Isso pode ser conquistado através de melhores práticas de gestão, uso de ferramentas específicas, que visam a diminuição de desperdícios de recursos, e pensando de maneira mais abrangente, através de incentivos e políticas mais favoráveis ao desenvolvimento do país, evitando, inclusive, práticas de corrupção, que sabemos que gera um grande impacto para todos os setores, principalmente o da saúde.
No entanto, se formos analisar os números do setor, percebemos que o maior problema da saúde não está apenas na escassez de recursos financeiros, mas no desperdício, que corrói valores exorbitantes dos cofres do sistema.
O financiamento adequado dos sistemas de saúde é fundamental, mas antes de relacionar os problemas financeiros à falta de investimento das autoridades, é necessário procurar saídas para aprimorar os recursos já existentes.
Uma importante medida a ser tomada é garantir que os processos internos da instituição de saúde estejam adequados e controlados, e que haja registro para todos eles, e principalmente para os que envolvem diretamente a gestão financeira, como compras, pagamentos e cadastro de pacientes.
A seguir, as principais causas de perdas e/ou desperdício de recursos em saúde, e como evitar cada uma delas.
Espera
Considerada uma das maiores causas de desperdício de recursos, a perda por espera acontece quando o tempo não é bem utilizado e aproveitado. A espera para atendimento não é desejável nem para profissionais, donos ou gestores, e muito menos para os pacientes.
Movimentar os leitos e desospitalizar é a melhor saída para este problema.
O objetivo da desospitalização não é dar alta antecipada ao paciente, e sim oferecer toda a assistência necessária para que seu tratamento tenha a devida continuidade em casa, através de ações como o home care.
O atendimento domiciliar deve ser semelhante ao oferecido pelo hospital, porém, com a vantagem para o paciente de ser feito em casa e sem os riscos de um ambiente hospitalar.
E a vantagem para a instituição vem a partir do momento em que são mais leitos disponíveis, podendo receber mais pacientes que realmente precisam receber o tratamento diretamente no hospital.
Defeito, retrabalho, não conformidades
Uma não conformidade significa um processo que gerou resultado insatisfatório, ou seja, produtos não conformes, que não atendem determinados requisitos.
Para que os processos não gerem produtos não conformes, o que resultaria em um grande nível de retrabalho, as empresas adotam cada vez mais sistemas de gestão de qualidade, como o ISO 9001, que padroniza os métodos e práticas da instituição, evitando assim produtos fora das condições esperadas pelos clientes.
O retrabalho também aparece quando são prescritos ou ministrados medicamentos por engano, ou na dose errada e até mesmo quando se começa a trabalhar com materiais cirúrgicos incompletos, ou ter altas taxas de glosas hospitalares.
Glosas Hospitalares: O que são e como evitá-las
Para a melhoria nestes erros, devem ser criadas estratégias de gestão que irão evitar com que eles se repitam, o que irá gerar vantagem competitiva para a organização.
A seguir, apresentaremos os principais motivos que geram desperdícios, e como evitá-los.
Superprodução em serviços hospitalares
As perdas que ocorrem por superprodução são as mais perigosas, pois elas podem gerar outros tipos de perdas e desperdícios. É também a mais difícil de ser abolida.
Existem dois tipos de perda por superprodução:
Superprodução por quantidade (por produzir mais do que deveria)
Neste caso, a produção é além do volume programado ou solicitado. Assim, ocorre a sobra de peças e/ou produtos.
Superprodução por antecipação
Este tipo de superprodução acontece quando se produz previamente, peças ou produtos que ficarão apenas em estoque, aguardando o momento de serem utilizados em determinadas etapas do processo produtivo, ou até mesmo os que ficam inutilizados, aumentando assim os custos financeiros da instituição.
Excesso de transporte
As perdas por excesso de transporte são aquelas mudanças que geram custo, mas não agregam valor algum ao bom andamento dos processos da instituição.
É totalmente desnecessário fazer com que pacientes ou profissionais de saúde ou gestores transitem, sem necessidade, entre unidades de saúde, estando elas dentro ou fora de onde foram atendidos pela primeira vez.
O excesso de transporte não aumenta, de fato, o trabalho, mas aumenta os custos globais do sistema produtivo. Por isso, a redução ou até mesmo a eliminação do transporte deve ser prioridade no trabalho de redução de custos da instituição de saúde.
Estoque a mais ou a menos
Deve estar estocado somente aquilo que será usado em um período determinado de tempo.
O estoque correto evita com que haja produtos a mais, o que faz com que grande parte deles fique inutilizada, e a menos, o que claramente, geraria a falta deles (medicamentos ou qualquer tipo de material).
Uma das maiores perdas por estoque a mais se dá pela validade expirada.
Portanto, um estoque correto deve ter o suficiente para ser utilizado rápida e efetivamente caso a demanda aumente diante de uma emergência.
Desperdícios de recursos naturais e de infraestrutura
Nunca se falou tanto em sustentabilidade como nos últimos 5 anos. E isso é um ponto extremamente positivo, que deve ser seguido à risca pelas instituições de saúde.
Elas devem ter como objetivo um mundo e um serviço de saúde mais sustentável. Não usar mais espaço, mais energia elétrica, mais equipamentos e mais recursos em geral, além do que é realmente necessário.
Os recursos devem ser o suficiente para prestar e receber o melhor serviço de saúde possível.
E como atingir este ideal? Uma sala cirúrgica não precisa ficar com todos os seus equipamentos ligados se não está em uso, o consumo de água na higienização de leitos e áreas comuns do hospital pode ser otimizados. Não faltam saídas.
Movimentação dos profissionais ao executar suas tarefas
A perda por movimentação em ambiente hospitalar se dá em relação à movimentação dos profissionais de saúde em serviço, ou seja, ao atender os pacientes. Ela se relaciona em partes ao desperdício de recursos causado pelo tempo de espera.
Uma saída para amenizar este problema está em deixar o que for necessário pré-organizado na preparação de qualquer procedimento, e disponível onde e quando necessário. A movimentação deve ser otimizada e a mais produtiva possível.
Sobre processamento
Este tipo de desperdício é aquele que ocorre por trabalho a mais que o necessário. O trabalho deve ser seguro e confiável. Mas quando tratamos de saúde, não devem ser realizados mais procedimentos do que o necessário.
O motivo? Não ter que fazer mais de um exame, ou realizar diversas conferências e verificações por não confiar que o trabalho que precedeu foi realizado de forma adequada…
Ferramentas de gestão para evitar a perda de recursos
Após serem identificados os motivos da ocorrência de desperdícios e perdas de recursos, e até mesmo como evitá-las, vamos apresentar duas ferramentas de gestão que foram elaboradas exatamente para estes fins, a Choosing Wisely e a Lean Thinking.
Gestão Hospitalar: 5 dicas para otimizar
Choosing Wisely
O Choosing Wisely é uma ferramenta de gestão que padroniza e aprimora o atendimento nas instituições de saúde. Excluindo a necessidade da realização de qualquer procedimento desnecessário. O que contribui diretamente para a redução ou eliminação de desperdício de recursos.
Sua diretriz vem a partir de recomendações do que deve ou do que não deve ser feito. Além de falar sobre as boas práticas na área da saúde, definidas a partir de evidências. Todas aprovadas pelas sociedades norte-americanas de diversas especialidades médicas.
Muitas vezes, o próprio paciente força o médico a realizar determinado exame ou procedimento. Quando for assim, o ideal é explicar que ele não fará diferença em seu diagnóstico ou tratamento.
No site oficial do Choosing Wisely, ainda é possível encontrar recomendações relevantes para a redução de desperdícios em recursos para cada especialidade.
Lean Healthcare
O Lean Healthcare (ou, traduzindo, saúde enxuta) é mais uma ferramenta de gestão que possui como objetivo eliminar os desperdícios e buscar a melhoria contínua nos processos da instituição. Está mais focada no paciente e na cooperação entre ele e o profissional de saúde.
Segundo Flávio Battaglia, representante do Lean Institute Brasil, “já temos diversas iniciativas de aplicação do Sistema Lean na gestão da saúde. Foi um sistema que revolucionou a indústria automotiva mundial e vem sendo copiado por empresas de todos os tamanhos e segmentos.”
No ambiente hospitalar, o intuito do Lean Care é reduzir:
- Tempo de espera;
- Filas;
- Diminuir retrabalho.
Dessa forma, otimizar e diminuir os custos.
Conclusão
Podemos perceber que são muitos os fatores que tornam os desperdícios de recursos em saúde recorrentes. Por diversas vezes, eles estão em atitudes consideradas “comuns” no dia a dia de uma instituição.
Porém, com a gestão correta e que direcione diretamente para este foco. A diminuição destas perdas tornam se numerosas.
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